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Yoga, um poder à liberdade

Atualizado: 24 de abr. de 2023

Quando eu comecei a praticar yoga, na década de 1990, não fazia ideia sobre o que eu encontraria pela frente. Acreditava que fazer yoga consistia em algumas técnicas de alongamento com exercícios de respiração e, ao final, dar aquela relaxada, gostosa. O que eu não fazia ideia era que o yoga se apresentaria como uma poderosa ferramenta para eu acessar a Realidade, tal como Ela é. Comecei a praticar yoga por uma necessidade terapêutica de recuperação da minha mobilidade, depois de um acidente que comprometeu, e muito, minhas funções motoras. Então, para minha surpresa, aquilo que era um preconceito sobre o que seria fazer yoga, se tornou minha motivação para faze-lo. Eu achava que o yoga era uma coisa para gente velha, doente e desocupada. Tipo, "bicho grilo", sabe!? Afinal, como eu havia vindo das artes marciais, algo que faço desde a infância, achava que o yoga era "muito parado" e monótono. Enfim, como todo jovem, eu estava errado.


yoga, um poder à liberdade
"O preço da liberdade é a eterna vigilância"

Com o passar dos anos fui estudando e praticando diferentes métodos de yoga. Muitos deles excelentes, outros, por sequelas que tive, não recomendaria. E depois de quase trinta anos de constância no yoga, encontrei o caminho mais seguro para praticar sem grandes riscos o desenvolvimento das técnicas e a observação dos conceitos. E os riscos que sinalizo, aqui, são de ordem de possíveis lesões físicas por exercícios mal conduzidos e praticados sem uma orientação profissional. E o que considero mais perigoso, o desordenamento do imaginário e comprometimento da autonomia que confere liberdade aos pensamentos, palavras e ações naqueles que se deixam, muitas vezes, serem mental e espiritualmente escravizados pelas delusões - a crença em ilusões como sendo verdadeiras. Isto é, o praticante de yoga não atento à necessidade de vigar sua liberdade, constantemente, tende a ser cooptado por narrativas míticas e, muitas vezes, falsas e sem conexão nenhuma com a Realidade e que não se correspondem ao imaginário dele e, como resultado, gera um destrutivo desalinhamento mental da própria verdade existencial, do Dharma, e da Realidade. E isso acaba promovendo um tipo de dependência cognitiva e comportamental que anestesia o discernimento do praticante sobre o que seja verdadeiro e falso, certo e errado, bem e mal. Desta maneira, pela falta de uma percepção sensível da Realidade na observação dos fenômenos naturais o indivíduo tende a relativizar o que não é relativizável. Exemplo; a verdade será sempre a verdade mesmo que tentem subverte-la. E a mentira será sempre a mentira mesmo que tentem justifica-la. O que é verdadeiro se sustenta, somente, na Realidade. O que é falso não pode se sustentar na mentira, pois ela não existe. É só uma justificativa ilusória para um cenário que não pode ser estabelecido na Realidade. Portanto, a liberdade só pode ser verdadeiramente desfrutada na Realidade.


Um professor de yoga, acredite, exerce grande influência sobre seu aluno. E ele o faz, na maioria das vezes, de forma subjetiva. Um bom professor atua como um guia ao despertar da consciência e à libertação de sofrimentos desvairados que angustiam a mente. Ele convida seus praticantes a refletirem sobre questões existenciais de grande importância e a construirem um corpo físico e mental mais fortes. Ele compartilha com seus alunos um conjunto de técnicas e conceitos sem querer molda-los a sua imagem ou crenças pessoais. A opinião de um professor de yoga, ao meu entender, é apenas uma opinião e deve se limitar a ele, apenas. Só dá continuadas opiniões sobre tudo aquele que não detém a verdade sobre si mesmo. Eu acredito que um bom professor ensina pelo próprio exemplo de vida e, desta maneira, seus praticantes o percebem naturalmente e aprendem, se desejarem, o que é importante para a manutenção da própria liberdade. Ser autêntico, verdadeiro, é a condição inegociável para o bom acharya (professor de yoga). Compreende o que eu digo? Então, quando o professor é intelectualmente desonesto e manipulador no trato com seus alunos, deve ser desnudado e rechaçado imediatamente. Afinal, como dizia o sábio Patáñjali: Sofrimento que pode ser evitado é sofrimento que não existe.


Essa breve sinalização sobre os princípios que devem nortear o ofício do professor de yoga são necessários para que se entenda o objetivo central da prática de tantas técnicas yogis diferentes e da observância dos conceitos de autoconhecimento e da verdadeira libertação das ilusões, que é o mais importante. Isto é, o yoga é um caminho à liberdade, simples assim. Sem excessões ou justificativas para cercea-la. A liberdade é inegociável, sempre, em qualquer circunstância! Compreende?


Estamos vivendo, infelizmente, em uma era muito estranha e perigosa para todos, sem exceção. Onde as liberdades individuais estão sendo canceladas em nome de "virtudes" professadas e não praticadas por aqueles que arrogaram pra si o monopólio da verdade; suprimindo liberdades de todos os tipos pela inépcia em refutar fatos e verdades no campo das ideias e num ambiente minimamente ético e intelectualmente honesto. Então, nesse ambiente hostil à verdade, encontrar a Realidade requer um esforço ainda maior e contínuo. Em resumo, como diz o ditado: "O preço da liberdade é a eterna vigilância.""


Não ha yoga sem liberdade para pensar, falar e agir. Evidentemente afirmo isso como uma prática salutar possível, apenas, dentro de uma sociedade que se esforça, continuamente, em manter a ética no convívio com seus pares e a preservar os bons costumes que regem a moral da harmonia social. Sabemos bem que uma sociedade sem valores morais sólidos está fadada ao fracasso. E o yoga é, na minha visão, uma poderosa ferramenta para gerenciar os bons valores humanos, costumes, ideias e o desenvolvimento de uma consciência integrada com a Realidade. Pois certamente, como a história nos comprova, não há contentamento verdadeiro, felicidade real ou realização pessoal dentro e fora do existencialismo se não estivermos na Realidade. Se o nosso coração e mente não buscar a transcendência além da matéria, com muito esforço e resiliência, o que seremos se não, somente, um corpo perdido na terra, uma unidade de carbono vagando sem rumo, sem significado, sem propósito que dignifique sua própria existência. Perseguir a Realidade e permanecer Nela é o que verdadeiramente nos liberta do falso, do insignificante, da banalidade, daquilo que não se sustenta no que vale a pena - a liberdade.


Reflita sobre a Verdade. Aquilo que sua percepção direta apreende da Realidade. Procure ver e sentir as coisas tais como elas são e não como você gostaria que fosse. Aceite a natureza sem tentar subverte-la. Contemple a vida pela dádiva que é o presente nas coisas mais simples e reais do cotidiano. Saia, um pouco, da linha do tempo. Pare de pensar tanto no passado ou no futuro. Isso produz sofrimento pelo que se deixou de ter e pelo que não se tem. Liberdade é movimento! É amplitude em seus pensamentos, palavras e ações! Evite dar tantas opiniões sobre tudo. Silencie a sua boca e aguce sua consciência pela observação correta da natureza e, ao mesmo tempo, persiga a verdade pelo estudo constante daquilo que traduz a Realidade e evite, com muito esforço e paciência, os devaneios de sua mente pela prática da intuição, da meditação e do auto-estudo constante. A liberdade é o seu bem mais precioso!


Viva de acordo com a sua verdade existencial, com o seu propósito de vida, com aquilo que você nasceu para ser e realizar no mundo. Desperte esse dom divido pela prática incessante da liberdade!


OM Dharma-Ya!

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