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O Yoga Literário e Sua Relação Com o Sānkhya (Parte 1)

Atualizado: 5 de fev.

O Sāṅkhya Yoga: Utilização e Adaptação para um Fim Maior


Sāṅkhya Yoga

O Sāṅkhya é uma disciplina filosófica aparentemente vinculada a uma vertente do Hinduísmo que preconiza a salvação por meio da capacidade individual de cada pessoa. Ao contrário do ritual de sacrifícios ou do estudo dos Vedas, a libertação dos limites do Universo material, segundo o Sāṅkhya, é alcançada pela adoção de uma atitude positiva na descoberta e utilização das capacidades individuais de percepção e realização.


Não é coincidência que o Sāṅkhya tenha se tornado a base teórica para o desenvolvimento da doutrina do Yoga, que foi formalizada por Patañjali.


O Sāṅkhya concebe o Universo como um palco ocupado por dois atores do processo de criação, essencialmente um só e o mesmo: Purusha, o "homem cósmico", e Prakriti, a substância fundamental onde os princípios do Universo têm origem. Inicialmente, não há diferença entre os dois, ambos eternos e infinitos. No entanto, em determinado momento, Purusha interfere em Prakriti, dando origem ao primeiro princípio criador do Universo - buddhi (também chamado Mahat, o grande princípio), que representa a capacidade de perceber e apreender a Realidade, ou seja, a inteligência.


Segundo a concepção Sāṅkhya, a primeira criação é a inteligência, como potencial de percepção. Surge inicialmente a capacidade de perceber, mas ainda não existem objetos percebíveis. Desse primeiro princípio, derivam "ahamkara" (que produz o "eu") e "manas" (a mente), que, junto com buddhi, constituem o agente interior de manifestação da inteligência cósmica dentro de nós - o antahkarana. A partir desse conjunto, são construídos os órgãos de percepção e ação, e, por fim, os elementos que compõem o Universo visível. Somente ao final desse processo surgem os objetos, viabilizando a consciência e percepção como as conhecemos.


Purusha, o "homem cósmico", e Prakriti, a substância fundamental onde os princípios do Universo têm origem.

Pelo ponto de vista Sāṅkhya, o Mundo é a reprodução do processo de percepção, estabelecendo primeiro a possibilidade de perceber e só depois criando objetos percebíveis.


A época da formulação do Sāṅkhya é desconhecida. Seu mais famoso proponente, o sábio Kapila, certamente antecede o Budismo e a Bhagavad Gita, onde é citado como o melhor dos Siddhas (homens perfeitos).


Enquanto os seguidores do Sāṅkhya, predominantemente místicos de vocação shramana, afastavam-se das preocupações mundanas (ou pelo menos há um esforço nesse sentido) da organização social, o grupo brahmânico lentamente se consolidava como uma casta sacerdotal, detentora do domínio divinamente determinado sobre a sociedade. Em contraste, as seitas shramânicas, rejeitando as castas e qualquer conceito doutrinário que implicasse em superioridade social, ganhavam popularidade.


A reação natural da população foi aderir a manifestos e doutrinas liberais, baseados na valorização da capacidade individual como uma qualidade natural, independente do "status" social, fortalecendo o Sāṅkhya e seu correspondente prático, o Yoga. As seitas shramânicas que mais prosperaram foram o Jainismo e, especialmente, o Budismo, que conquistou a adesão do grande rei Ashoka, da dinastia Maurya, após um violento ataque ao rei budista Kalinga, cerca de 264 a.C.


O Sāṅkhya Yoga, em síntese, baseia-se no equilíbrio das dualidades e no completo despertar das potencialidades individuais de cada ser humano.

Enquanto a tradição védica, embora respeitada, distanciava-se cada vez mais da vida religiosa da Índia, tornando-se um tema para encontros intelectuais, as seitas shramânicas prosperavam, obliterando a herança védica. Surgiram seitas como as Shaivistas (devotadas a Shiva), Shaktas (devotadas à divindade feminina), Ganapatyas (devotadas a Ganesha), entre outras. A força da bhakti, por exemplo, tornou o Sul da Índia quase imune às teses shramânicas, com o Jainismo e o Budismo afastando-se ainda mais do Hinduísmo.


Enquanto os brahmanes se distanciavam da força social da bhakti, as seitas shramânicas se aproximavam e desenvolviam uma grande variedade de cultos regionais. Um exemplo é o surgimento dos Pashupatas, a primeira seita shaivista, no final do século II, pelas mãos de Lakulisha.


O brahmanismo mimamsaka, resistente à bhakti, buscava apoio nos reis e príncipes, mantendo-se, especialmente durante a dinastia Gupta. Esta, no período dos séculos III a VI da nossa Era, organizou um grande império sustentado principalmente pelo comércio com Roma. No entanto, a queda do Império Romano e as incursões dos Hunos levaram à queda do Império Gupta, facilitando a incursão gradual dos povos islâmicos a partir do século VIII.


(Continua na Parte 2)

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