top of page

Compreenda o Śrī Yantra | O Senhor dos Símbolos do Tantrismo Clássico

Gostaria de compartilhar, como parte de um estudo que tenho feito sobre a simbologia no Yoga, um breve artigo sobre o Śrī Yantra (sânscrito: श्री यन्त्र, IAST: śrī yantra; em português pronuncia-se “shri iân-tra”), com base nas fontes tradicionais do tantrismo hinduísta — especialmente da escola Śrī Vidyā — bem como referências a Lokapāla, Vāstu Vidyā, e literatura correlata. Em publicações futuras estarei desvendando de uma forma clara e, principalemte prática, os demais Yantras (símbolos) utilizados no Yoga mais autêntico. por ser a tradição ao qual estudo, pratico e ensino.


Śrī Yantra
Śrī Yantra

Introdução à Simbólica Tantrica


O Śrī Yantra, também chamado Śrī Cakra (śrī chakra), é um dos yantras mais reverenciados do tantrismo hindu, principalmente na tradição Śrī Vidyā. Ele é um diagrama sagrado de geometria simbólica que serve tanto para meditação (dhyāna) quanto para práticas ritualísticas, e é considerado uma representação microcósmica e macro­cósmica da manifestação divina.


Estrutura geométrica do Śrī Yantra e seus componentes


O Śrī Yantra possui uma construção muito precisa; seus elementos principais incluem:

Elemento

Descrição geométrica / visível

Simbolismo principal

Triângulos entrelaçados

Nove triângulos que se entrelaçam: quatro apontando para cima, cinco para baixo; a interseção entre eles forma 43 triângulos menores.

Representam a união dos princípios divinos masculino (Shiva) e feminino (Shakti); a totalidade do universo manifestado; os diferentes níveis da consciência.

Bindu

Um ponto central, o núcleo do Yantra.

Simboliza a origem, a pura consciência, o ponto de união onde dualidades (manifestadas) se dissolvem.

Lótus de pétalas (padma)

Dois lotos concêntricos: um com 16 pétalas, outro com 8 pétalas.

A abertura espiritual; os sentidos, os aspectos da mente, as forças sutis de criação, fertilidade, desejo, etc. Cada pétala simboliza atributos ou facetas da existência e do cosmos.

Quadrado externo (bhūpura) com portais/dimensões

Um quadrado externo que delimita todo o esquema, com quatro portões (um em cada lado) que simbolizam as direções cardinais.

Representa a base material, o mundo manifesto, a “terra”; também atua como limiar de acesso, de porta para as diversas fases do percurso espiritual. É onde se manifestam os Lokapāla — guardiões das direções.


Os Nava Avarana — os nove níveis do Yantra


“Navāvaraṇa” significa literalmente “nove invólucros” ou “nove camadas”. Cada camada (ava­raṇa) simboliza um estágio espiritual, um aspecto da psique ou do cosmos, um conjunto de deidades, mantras ou energias que o praticante atravessa no culto ou contemplação do Yantra.


Abaixo, um resumo de cada camada, de fora para dentro:


  1. Bhūpura (“portaçāo ou fronteira da terra”) — o quadrado externo, com as quatro portas; domínio terreno e os Lokapāla (guardas das direções). Simboliza o mundo manifesto, as limitações iniciais.

  2. Sarva Āśā Paripūraka — lótus de 16 pétalas; plenitude de todos os desejos e aspirações.

  3. Sarva Saṅkṣobhāhana — lótus de 8 pétalas; provocações, tensões das emoções/mente; purificação inicial.

  4. Sarva Saubhāgyadayaka — 14 triângulos menores; auspiciosidade, fortuna, bênçãos, crescimento dos méritos.

  5. Sarvartha Sādhaka — 10 triângulos; realização de objetivos, purificação dos obstáculos internos.

  6. Sarva Rakṣākāra — outro conjunto de 10 triângulos; proteção contra perigos físicos, mentais e espirituais.

  7. Sarva Rōgahara — 8 triângulos; cura, remoção de doenças e impurezas.

  8. Sarva Siddhiprada — triângulos de energia espiritual, poderes (siddhis), capacidades de realização.

  9. Sarva Ānandamaya / bindu — o ponto central, bem-estar supremo, união com consciência pura, bem-aventurança.


Relação com Lokapāla e Vāstu Vidyā


  • Lokapāla (sânscrito लोकपाल, lokapāla) significa “guardiões das direções” (lokā = “lugar, mundo, região”; pāla = “guardião”). Eles correspondem aos deuses protetores dos pontos cardeais (leste, oeste, norte, sul), e também, em algumas tradições, direções intermediárias.

  • No Śrī Yantra, os portões do quadrado externo (bhūpura) correspondem a essas direções cardeais, e são “guardados” simbolicamente pelos Lokapāla. Isso reforça a ideia de proteção espiritual, limitação inicial (o mundo manifestado) antes de adentrar os níveis interiores do Yantra.

  • Vāstu Vidyā (ou Vastu Sástra / Shastra) é a antiga ciência de arquitetura e harmonização dos espaços segundo princípios cósmicos – luz, orientação, direções, energias sutis, etc. Embora o Śrī Yantra seja primariamente uma ferramenta espiritual / ritualística, ele também é usado em Vāstu como símbolo de prosperidade, proteção e correção de energia nos ambientes.

    • Por exemplo, em textos modernos e práticos de Vāstu Vidwān, o Śrī Yantra é indicado para colocar em locais auspiciosos da casa ou templo para trazer abundância.


Significado espiritual e/ou metafísico


Além da geometria, o Śrī Yantra é veículo de:

  • Integração de opostos: Shiva / Shakti; masculino / feminino; o absoluto e o relativo; o manifestado e o não-manifestado.

  • Caminho de ascento espiritual: O praticante avança da camada externa para a interna, passando pelas camadas de lotus, triângulos, até atingir o bindu. Cada avaraṇa é uma purificação, uma superação de condicionamentos.

  • Manifestação da deusa Tripura Sundarī: Na tradição Śrī Vidyā, o Yantra é a forma visual da deusa suprema (Tripurasundarī), que é ao mesmo tempo forma e paraforma, símbolo da beleza, do poder, do universo manifestado. O Mantra Panchadashī, Lalitā Sahasranāma, etc., acompanham essa contemplação e/ou adoração.

  • Advaita (não-dualidade): Apesar de toda manifestação e multiplicidade (triângulos, lotos, formas), o objetivo último é reconhecer o ponto central, a consciência indivisa.


Observações sobre literatura tradicional e limitações


  • Nem todos os textos antigos dão exatamente os mesmos nomes para as avaraṇas ou as associações de deidades/mantras; há variações regionais e de linhagem.

  • A representação geométrica precisa exige proporções exatas; em muitos yantras modernos estas proporções são adaptadas artisticamente, mas para propósitos ritualísticos/tradicionais, a precisão é considerada essencial.

  • O Śrī Yantra pertence sobretudo às śāstras e tantras (Agama, Upāñśads, textos como Parāśurāma Kalpa­sūtra, etc.). Ele não aparece de modo tão detalhado nos Vedas “exógenos”, embora existam alusões veneráveis à estrutura dos seis ou nove triângulos em textos associados à devoção à mãe divina.


O que podemos concluir?


O Śrī Yantra (śrī yantra) não é apenas um desenho simbólico, mas um mapa espiritual, um instrumento de meditação, um portal que conduz o devoto ou praticante do mundo manifestado até a consciência pura. Seus traçados geométricos — os triângulos entrelaçados, o bindu, o lótus, o quadrado externo e os portais — todos têm significado profundo, não apenas estético, mas prático em práticas de Śrī Vidyā: contemplação, puja, mantra, ascensão espiritual.

A ligação com Lokapāla e Vāstu Vidyā reforça sua função de proteção, harmonização e interconexão entre espaço, direção e energia. Saber escolher uma linhagem sólida, seguir preceitos tradicionais e respeitar a geometria, o ritual e o mantra conferem autenticidade à prática.


Em nosso site www.dharmayogasp.com.br, na seção Podcasts, você encontra uma prática introdutória de meditação Natha. Nela, o praticante é conduzido às coordenadas iniciais (lokapāla) e às principais características meditativas de cada direção, estabelecendo as bases para um trabalho interior profundo.

Acesse e desfrute dessa experiência, junto a outros exercícios mentais especialmente preparados para ampliar sua consciência e fortalecer sua prática.


Referências utilizadas


  • Livro publicado FLAUSINO, Jefferson. Yoga sem mistérios. Curitiba: Appris, 2020.

  • Caderno de estudos (material institucional, não publicado comercialmente) DHARMA YOGA SÃO PAULO. Yoga Life Training 500h: caderno de estudos. São Paulo: Dharma Yoga São Paulo, [s.d.].

  • “Sri Yantra”, artigo da Wikipédia em inglês. (Wikipedia)

  • “The Significance of the Sri Yantra in Srividya Sadhana”, Mahāvidya Sādhana Centre. (Mahavidya Sadhana Centre)

  • “Sri Yantra: Meaning, Symbolism, and Benefits”, Yoga Basics. (Yoga Basics)

  • “Sri Sri Yantra Meaning: Divine Energy and Abundance”, Arogya Yoga School. (Arogya Yoga School)

  • Lokapāla, artigo da Wikipédia. (Wikipedia)

  • Outros textos de introdução à Śrī Vidyā, Śrī Cakra, e literatura de yantra/ tantra (resumos de traduções e comentários modernos).


Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
bottom of page